O povoamento da Ilha Terceira

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O primeiro documento escrito que certifica a ocupação da ilha de Jesus Cristo é a Carta de doação da capitania da ilha a Jácome de Bruges, datada de 2 de Março de 1450, pelo Infante D. Henrique.

Jácome de Brugesservidor do Infante D. Henrique, natural do Condado da Flandres, era um rico e próspero homem de negócios que viera estabelecer-se no reino, à mais de duas décadas. Esta doação terá sido uma recompensa por serviços prestados ao Infante.

Às suas custas, Jácome arranjaria colonos de fé católica para povoar a ilha.
Em troca recebe amplos direitos e privilégios como o do monopólio dos moinhos, dos fornos de poia e do comércio do sal, o direito de concessão das terras em regime de sesmarias, a redízima, a administração da justiça — salvo alçada de morte e talhamento de membros — e o "excepcional" direito de sucessão por linha feminina.




Década de 1450


Em Janeiro de 1451, o capitão acompanhado de alguns colonos parte para a Terceira em dois navios carregados de gado (vacas, porcos ovelhas e cabras) para serem lançados em vários locais da ilha. 

Teriam explorado a costa em busca de um local onde a povoação se deveria estabelecer.



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Pesqueiro dos Meninos
(Foto de Junta de Freguesia de São Sebastião)



Segundo uma tradição baseada em testemunhos dos mais velhos, desembarcaram a sueste, na freguesia de Porto Judeu, mais propriamente abaixo do arrabalde de S. Sebastião, junto ao Pesqueiro dos Meninos.







Ermida de Santa Ana
na vila de São Sebastião
(Foto da Junta Freguesia de S.Sebastião)

Abriram caminho uma légua a partir da costa, desbravando o grosso mato e estabeleceram-se num vasto campo, que chamaram Porto Alegre (também Portalegre, Portal Alegre, Porta Alegre). 
Aí terá nascido a primeira paróquia com trinta oradores com a construção em 1454 de uma ermida sob a invocação de Santa Ana
Este local ficaria conhecido por Santana de Portalegre e dele poucos vestígios restam. 
A imagem do orago da primitiva capela foi colocada na ermida de Santa Ana no interior da povoação de São Sebastião em 1568. 




Actual Igreja de São Sebastião na
Vila de São Sebastião
 (foto de SIPA)



O povoamento ter-se-á alargado para outro local mais junto da costa, com mais abundância de água e de terreno fértil onde se começou a cultivar o pastel. 
Chamaram-lhe Ribeira de Frei João ou Lugar de Frei João e aqui surge a Igreja de São Sebastião construída em 1455 onde hoje se encontra a vila de São Sebastião







Actual Igreja de Santa Beatriz ou
Igreja Paroquial das Quatro Ribeiras
(Foto de SIPA)

Outra tradição refere um tal Fernão Dulmo [1] cavaleiro régio que desembarca na ilha onde hoje se encontra a freguesia das Quatro Ribeiras com trinta pessoas. 
Neste local começa a ser erigida a igreja de Santa Beatriz em 1455.
Existem duas hipóteses:
ou o flamengo Fernão Dulmo chega à ilha em 1451 com Jácome de Bruges, desembarca nas Quatro Ribeiras e dá inicio ao povoamento;
ou chega à Terceira antes deste, procede ao povoamento por sua conta e torna-se no primeiro fidalgo a estabelecer-se na ilha.
Esta segunda teoria é baseada em alguns documentos em que Fernão Dulmo é referenciado como capitão das Quatro Ribeiras ou como capitam na hylha Terceira por o duque dom Manuel, mas não se conhece qualquer carta de doação. 
Em 1487, ano em que Dulmo recebe autorização do rei D. João II para explorar o oceano a oeste dos Açores, corria uma demanda entre este e Antão Martins Homem, cada um designado por capitão, sobre as terras das Quatro Ribeiras.
Não se sabe se Dulmo chega a partir para a dita viagem, mas sabe-se que acaba por abandonar a ilha sem ali deixar descendência, dizem "por achá-la sem interesse por ser muito rochosa e de difícil cultivo" ou por a demanda atrás referida não ter sido resolvida a seu favor.


Jácome de Bruges necessitando de um porto de escoamento, dá inicio ao povoamento do Paúl de Beljardim (Belo Jardim) na zona a meio da baía da Praia, tornando este local a primeira sede da Capitania da Praia criada em 1456 mas de contornos indefinidos. Reserva para si, a Serra de Santiago, hoje conhecida como Serra do Facho e terras na planície do paul, onde veio a nascer a vila da Praia. 




Década de 1460



Infante D. Henrique
Em 1460, o Infante D. Henrique faz doação das ilhas de Jesus Cristo e da Graciosa ao seu sobrinho e herdeiro Infante D. Fernando com ressalva da espiritualidade da ilha que é entregue à ordem de Cristo, o qual mostrara vontade em mandar povoá-las.


Esta carta de doação revela o fracasso de Jácome de Bruges visto que a ilha de Jesus Cristo nesta data tinha uma ocupação incipiente. A sua acção governativa não deve ter ido muito além da ocupação dos terrenos circunvizinhos da baía da Praia. 
Caducava, assim, o contrato entre o infante D. Henrique e Jácome de Bruges, por este último não ter podido cumprir a sua parte?



Infante D. Fernando


Com a morte do Infante D. Henrique no final de 1460, o Infante D. Fernando, resolveu empenhar-se pessoalmente no povoamento das suas ilhas, enviando para elas gente da sua confiança.

A estratégia de humanização agora alterava-se pois, D. Fernando, enviava dirigentes e colonos para as ilhas, mas a nenhum deles garantia cargos, antes de provarem a sua eficiência. 




Sem haver cartas de doação, à Terceira, nesta década de sessenta, chegaram os novos capitães, “sem o serem” , como os apelidou Gaspar Frutuoso em "Saudades da Terra": 
Jácome de Bruges (de novo) e Álvaro Martins Homem, dois chefes de grupos distintos de colonos.



A primeira vaga de povoadores (1460-1473)


1. Os Homens do Capitão Jácome de Bruges


Jácome de Bruges, acompanhado de algumas famílias operárias, nobres e religiosos franciscanos para dizerem missas, administrarem sacramentos e desempenharem as funções eclesiásticas, instala-se em Beljardim. É também acompanhado por um dos filhos ilegítimos Gabriel de Bruges, que faleceu antes do pai mas que deixou descendência na Horta.

Com ele, nesta segunda tentativa de povoamento, chegam  quatro nobres vindos do Reino: João de PonteJoão BernardesJoão Leonardes e João Coelho.

Estes nobres ter-se-ão instalado inicialmente na Ribeira de Frei João sendo nomeados senadores da câmara aí criada e os grandes impulsionadores do povoado.

João da Ponte, mais tarde, toma a sua dada em Beljardim.

João Leonardes, casado com Catarina Dias, de quem teve muitos filhos, posteriormente tomou a sua dada nas imediações do Pico da Mina à Ribeira Seca, tendo habitado à entrada da Canada do Sargo.


Actual Igreja de Santo António ou
Igreja Paroquial de Porto Judeu (foto de SIPA)


João Coelho após ir buscar a sua esposa Catarina Rodrigues da Costa (a Coelha) tomou a sua dada nas terras junto ao Pico de D. Joana e no Porto Judeu de Santo António.
Aqui é construída a Igreja de Santo António em data anterior a 1470.
Com ele vem Vasco Lourenço Coelho, o instituidor da capela de Santo André, igreja de Santa Cruz da Praia.



Tendo passado pela ilha da Madeira junta-se-lhes Diogo de Teive [2] escudeiro da Casa do Infante D. Henrique, para desempenhar o cargo de seu loco-tenente (lugar tenente) e ouvidor geral. A ele, Jácome de Bruges concede parte dos seus terrenos da Serra de São Tiago.

Gonçalo Anes da Fonseca (por vezes Machado), natural do Algarve, chega à ilha com um grupo de portugueses, enviados por iniciativa do Infante D. Fernando. Depois de se ter estabelecido inicialmente junto da Ribeira de Frei João, terá ido buscar a sua mulher, Mécia de Andrade Machado, alfaias agrícolas, criados e caseiros. Tomou a sua dada nos terrenos da Ribeira Seca, cortando o biscoito do Porto Martins até ao paul das vacas. Ficaria conhecido por Gonçalo Ribeira SecaO seu filho primogénito, Gaspar Gonçalves Machado Ribeira Seca foi o primeiro homem a ser baptizado na ilha Terceira. 


2. O acompanhantes de Álvaro Martins Homem



Álvaro Martins Homem
Álvaro Martins Homem, navegador português e fidalgo da casa do Infante D. Fernando, instala-se  em Angra, com a sua mulher Ignez Martins Cardoza, e com os filhos  entre os quais aquele que o sucederia na capitania: Antão Martins Homem.

Dá inicio à construção da sua habitação que viria a ser a Casa do Capitão, num casario que ainda hoje é conhecido por casas do Marquês
Além disso canaliza uma ribeira (ou parte dela) aí existente e manda construir uma rede de moinhos, movidos pela força das suas águas. 
É de 1461 o inicio da construção da primitiva igreja de São Salvador, no mesmo local onde hoje se encontra a Sé Catedral de São Salvador.

Álvaro Martins Homem é acusado de se apropriar de terras à força e de tentar, junto do Infante que a ilha fosse dividida em duas capitanias, para melhor governo, tal como se havia já feito na ilha da Madeira.


Affonso Gonçalvez de Antona Baldaia [3], fidalgo do Infante D. Henrique, chega à ilha com o filho, Pedro Afonso da Areia e seu futuro genro, Antão Gonçalves de Ávila, "o Castelhano". Terá chegado no papel de conciliador das oposições entre Jácome de Bruges e Álvaro Martins Homem (sem sucesso) por mandado de D. Fernando, ou já aos inícios da década de 70 (e antes de 1474), em idênticas funções, tendo como mandatária D. Beatriz .
Tomou duas dadas de terras, uma entre o corte da Cruz do Marco e a Ribeira de Santo Antão, e outra entre a Ribeira dos Pães e a Ribeira da Areia, até à ponta da Serra do PaulInicialmente fixou a sua residência em Angra do Heroísmo, numa casa que depois do ano de 1475, passando à Praia com Álvaro Martins Homem, cedeu aos Frades Franciscanos para edificação do Convento de São Francisco , onde está sepultado. 
Na vila da Praia, também fez cedência de propriedades suas aos Frades franciscanos, para edificação de um outro convento o que lhe mereceu o cognome de “Velho de S. Francisco”.

Antão Gonçalves D'Avila, fidalgo castelhano que acompanha o "velho de S. Francisco" até à Terceira e casou depois com uma das suas filhas.

Antão Martins da Fonseca, primo de Álvaro Martins Homem, chegou com o seu filho Álvaro Lopes da Fonseca.

Henrique Cardoso, irmão da mulher de Álvaro Martins Homem, também veio para a ilha nesta época.



3. Outros povoadores ditos de "primeira vaga"


Álvaro Vaz  Merens casado com Isabel Velho, irmã de Gonçalo Velho,  toma dadas como uma grande porção de terrenos entre o Porto das Pipas e a Grota do Vale, e também outros terrenos como os que compunham o alto de Santa Luzia em Angra. Fundou sob a invocação de Santa Maria Madalena, uma ermida junto ao mar na encosta hoje se encontra o Castelo de São Sebastião e, mandou fazer o primeiro forno de cal no sítio do porto das pipas. 

Gonçalo Ximenes Betencór (Gonçalo de Linhares) e esposa Violante de Bettencourt (Violante Pires), oriundos da Madeira, toma como dada os terrenos da Grota do Vale até ao Pico Redondo dando inicio ao estabelecimento do povoado de Vale de Linhares, freguesia de São Bento por volta de 1460.

Pedreanes (Pedro Anes) terá chegado à ilha no ano de 1465 e a ele estão associadas as primeiras laranjeiras plantadas na ilha.

Rodrigo Afonso Fagundes, natural de Viana, é dado como homem da Casa do Infante D. Henrique. Terá vindo para a ilha com seus filhos e já viúvo. Sua filha, Inês Rodrigues Fagundes, ou Beatriz Lourenço Fagundes, seria a segunda mulher do "Velho de S. Francisco", conforme os cronistas. Outra filha, Isabel Fagundes ou Isabel Lourenço  Fagundes, terá casado com Gil de Borba, que da dita vila alentejana veio povoar a ilha, também com o capitão Álvaro Martins Homem.

Gil de Borba, que como o nome indica veio da dita vila alentejana, casa  com uma filha de Rodrigo Afonso Fagundes fica associado a uma terra em Beljardim. 

Gonçalo Ferreira de Teive ou vem com o irmão Diogo de Teive, ou com Álvaro Martins Homem. 



O desaparecimento de Bruges



Diz-se que Jácome de Bruges teria recebido cartas sobre o falecimento de um tio que lhe deixara uma herança e que para a reclamar teria partido para a Flandres.

Certo é que, por volta do ano de 1466, Jácome de Bruges nunca mais voltou a ser visto.

Já depois do seu desaparecimento, Antónia Dias de Arça, sua filha e herdeira da capitania da ilha Terceira, de acordo com o alvará da doação do Infante D. Henrique, casa com o fidalgo inglês e comendador da Ordem de Santiago, Duarte Paim.


Serra do Facho
Serra de São Tiago 
conhecida actualmente por Serra do Facho

Na ilha, Diogo de Teive apodera-se dos poderes do capitão. Além de tomar para si toda a Serra de São Tiago, começa a doar terras na qualidade de ouvidor com o cargo de capitão. 

A certa altura parte para Lisboa a fim de reclamar para si o governo da ilha. No reino Diogo de Teive é preso por crimes que aí tinha cometido.





A viúva de Bruges, Sancha Rodriguez de Arça, acusa Diogo de Teive de estar por detrás do desaparecimento do marido. 
Diogo de Teive é notificado para "que dentro de dez dias desse conta de Jácome de Bruges, ou vivo ou morto, sob pena de mandar proceder contra ele"Algumas fontes dizem que morreu na prisão seis dias após esta notificação, mas ignora-se a data e o modo do seu falecimento.

Mas os assuntos da Terceira,  nestes últimos anos da sua vida, não eram prioridade para o Infante D. Fernando o qual, nem chegou a confirmar a doação da capitania a D. Antónia de Arça (Diogo Paim, filho desta e de Duarte Paim João de Teive, filho de Diogo de Teive, viriam mais tarde a disputar, numa longa demanda, as terras da Serra de São Tiago), nem dividiu a ilha em duas capitanias como era a sua intenção e a de Álvaro Martins Homem. 



Década de 1470


Em 1470 o Infante D. Fernando morre.


Infanta D. Beatriz


A Infanta D. Beatriz, esposa de D. Fernando, tutora do seu filho D. Diogo e administradora da donataria insular, por morte de Jácome de Bruges sem descendente varão legítimo, declara a capitania da ilha como vaga.








Aparecem então dois pretendentes:  Álvaro Martins Homem que, como vimos já se encontrava instalado em Angra e João Vaz Corte Real.


João Vaz Corte Real
 Igreja de Nossa Senhora da Guia em
Angra do Heroísmo






João Vaz Corte Real, natural do Algarve e fidalgo português da casa do Infante D. Fernando, casado com Maria de Abarca, a Galega, era um grande navegador e explorador a quem se atribui a descoberta da Terra Nova em 1472, vinte anos antes de Colombo. Teria sido acompanhado por Martins Homem nestas viagens de exploração à Terra Nova e à Gronelândia.










Em 1474, D. Beatriz formaliza a divisão da ilha em duas capitanias, concretizando a intenção que já era do seu marido. 

Dá a escolher uma capitania a João Vaz Corte Real, privilégio concedido pelos grandes serviços prestados ao reino. 
Este escolhe a capitania de Angra tornando-se o seu primeiro capitão do Donatário. Na carta de doação, datada de 2 de Abril de 1474, verifica-se os amplos privilégios dados ao capitão. 
Álvaro Martins Homem é indemnizado por Corte Real "pelas muitas obras que ali tinha feito e pelo prejuízo em que ficava".

Álvaro Martins Homem, fica com a capitania da Praia, em carta de doação datada de 17 de Fevereiro do mesmo ano, para onde se muda.






Composição social


Na Terceira, e nos tempos mais recuados, o poder  estava entregue a uma pequena nobreza, principalmente da Casa do DonatárioNo topo da sociedade encontrava-se escudeiros, cavaleiros e alguns fidalgos, muitos deles associados à navegação, como Fernão Dulmo, Diogo de Teive, Álvaro Martins Homem, e João Vaz Corte Real.
Outros eram mercadores como Jácome de Bruges, mas todos eles personagens em busca das oportunidades e da riqueza que o serviço a um Senhor poderoso, como eram os Infantes, poderia permitir.

Abaixo destes, e menos lembrado, ficaria o "homem comum", aqueles que arrotearam, desbravaram e cultivaram os campos, produziram o artesanato e construíram os edifícios. As profissões mais básicas teriam sido as primeiras a aportar à ilha seguidas das mais complexas à medida que a colonização foi avançando.
Quanto à presença de escravos, mouros e judeus, os registos só os mencionam a partir de 1500, o que não invalida a sua presença no inicio do povoamento. Contudo, estes grupos foram  minoritários na composição humana da Terceira.




As motivações


Quanto às motivações destas gentes para partirem para terras tão distantes, são variadas:
  • As oportunidades de obtenção de terra própria, virgem, neste caso apenas sujeita ao dízimo a Deus, com isenção da dízima sobre a mercadorias produzidas nas ilhas;
  • As ligações parentais, pois muitos vinham com filhos, irmãos, primos e parentes de vária ordem. 
  • Muitas vezes chegavam para casar dentro da ilha, onde iniciavam relações interpessoais com criados, dependentes e "braços-direitos", mas também senhores e  "agasalhadores"; 
  • Alguns deles aportariam à ilha condenados por práticas e comportamentos sociais e judicialmente recriminados, como é o caso de Gil de Borba, que segundo a tradição viera à Terceira por estar envolvido num assassinato; 
  • Para outros, a razão é o desprestígio e "desgraça" da famíliaprocurando engrandecer a ascendência e/ou justificar as relações da família "despromovida". É o caso de Vasco Afonso do Canto, avô de Pero Anes do Canto, que caíra em desgraça e pobre vivera por ter pertencido às hostes do Infante D. Pedro, ou outro que remete para o povoador João Borges, filho de Tristão Borges, escudeiro e criado do referido Infante, e ainda a vinda de Álvaro Vaz Merens, por ser afeiçoado de D. Pedro;




A proveniência



Muitos dos que aportaram à Terceira, neste inicio do povoamento eram de proveniência insular, destacando-se a Madeira mas também de São Miguel. Também veio gente de proveniência flamenga, genovesa, asturiana e castelhana.
Do Reino, detectam-se originários do Algarve, do Alentejo, Entre Douro e Minho, do interior transmontano e do interior beirão, e de Lisboa e as áreas circunvizinhas.



A distribuição de terras


No período anterior a 1474, as "tomadas" de terra ("tomou a sua dada ou data") com a respectiva demarcação e consequente legalizar posterior da posse junto dos detentores do poder, é prática que se pode considerar comum. Assim, a concessão formal das terras feita pelo capitão Jácome de Bruges, ou pelo seu lugar-tenente e representante, se bem que cumprindo determinadas regras, seriam fluidas e pouco dependentes do registo escrito. 
De facto, não restaram quaisquer documentos escritos, como cartas de sesmaria ou regimentos, anteriores a D. Beatriz.

As cartas de doação das capitanias a Álvaro Martins Homem e a João Vaz Corte Real de 1474, definiam que a concessão das terras em sesmaria cabia principalmente ao respectivo capitão salvaguardando-se assim, o direito do donatário, a poder dá-las a quem o entendesse. Para além disso, estabeleceram o prazo de cinco anos para a rentabilização económica da terra concedida, a que acrescia outro tanto tempo no qual esta devia manter-se produtiva. Ao fim desse tempo e se estes objectivos não fossem cumpridos, a terra poderia ser concedida a outrem.

No designado "regimento antigo", ou regimento de D. Beatriz, datável entre 1470 e 1482 e mais provavelmente posterior a 1474, determina-se que o capitão teria de requerer as terras ao almoxarife que notificava o donatário sobre o requerimento das mesmas, com as confrontações, as apetências de cultivo e o que levaria em semeadura. Ao donatário cabia, então, dar ou não o aval. 

Mesmo assim, o que se pode constatar através de documentos posteriores, é que quem beneficiou com este regime de concessão de terras foram essencialmente  os detentores desse mesmo poder de concessão, capitães e almoxarifes, quem por um motivo ou outro os substituiu e familiares próximos ou descendentes dos primeiros.  No entanto, algumas sesmarias foram cedidas a escudeiros ou criados de figuras proeminentes e a gente mais humilde, dita poure e essencialmente composta por mesteirais (categoria social composta por mestres de um determinado ofício).





Nota

A história do povoamento da ilha Terceira, por falta de documentação escrita, encontra-se envolta em dúvidas e contradições. O relato dos acontecimentos acima descritos resulta da compilação de várias fontes.




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O inicio do povoamento dos Açores

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Em 1439,  o rei D. Afonso IV dá licença ao Infante D. Henrique para que mandasse povoar as sete ilhas dos Açores, nas quais Gonçalo Velho já teria lançado gado.(ver a Descoberta dos Açores). 


Infante D. Henrique
no Padrão dos Descobrimentos em Lisboa

Quando da descoberta dos Açores, as ilhas foram doadas pela coroa ao Infante D. Henrique que por sua vez as doou à Ordem de Cristo da qual era mestre, ficando como Donatário das ilhas dos Açores.

Ao Donatário cabia a administração das ilhas. Estas eram divididas em capitanias onde o donatário se fazia representar pelos seus capitães - Capitães do Donatário. 

A estes capitães do donatário cabia a administração local tendo por deveres:  povoar as terras e reparti-las, entregar colonos, explorar economicamente o território assim como defendê-lo e manter a ordem aplicando a justiça (com excepção de penas de execução e talhamento de membros que pertenciam ao donatário). Serviam ainda de interlocutor entre as populações e o donatário, respondiam perante ele pelos seus actos e eram remunerados com o redízimo (10 por cento do dizimo que cabia ao donatário). Além da remuneração tinham o monopólio dos moinhos, do comércio de sal e dos fornos de cozedura de pão.



Gonçalo V. Cabral
by Jlahorn
Nesse mesmo ano de 1439,  Gonçalo Velho Cabral, inicia o povoamento da ilha de Santa Maria seguido da de São Miguel em 1444. Tendo sido intitulado como comendador da ilha de Santa Maria, capitão nos Açores, não se sabendo ao certo se terá sido capitão do donatário destas ilhas. 

O povoamento revelar-se-ia contudo muito difícil de concretizar pois haviam imensas ilhas a serem povoadas e as novas conquistas na costa Africana tornavam-se mais atraentes para os colonos. 
Para incentivar o povoamento, em 1443 D. Afonso IV  concede a isenção do pagamento da dízima e portagens "de todas as coisas que delas trouxerem ao reino" aos moradores e povoadores de Santa Maria. 
Em 1447, os actuais e futuros moradores de S. Miguel são isentados da dízima de todos os produtos produzidos na ilha .
Apesar disso, passados dez anos do inicio do povoamento das ilhas de Santa Maria e São Miguel, estas encontravam-se pouquíssimo povoadas e o povoamento das outras ilhas estava comprometido. 



O inicio do povoamento da ilha de Jesus Cristo (Terceira) é apontado para o ano de 1450 data da carta de doação da capitania ao flamengo Jacôme de Bruges

1450 é também o ano apontado para o inicio do povoamento da Graciosa por "arraia miúda e escravos" . Ente 1475 e 1479 chega o navegador português Vasco Gil Sodré acompanhado da família e criados. Este teria pretendido obter o cargo de capitão do donatário da ilha mas este cargo foi atribuído a  Pedro Correia da Cunha em 1485. 

Embora povoada desde 1460, a capitania da ilha de São Jorge é cedida a João Vaz Corte Real em 1483.

Também em 1460 é atribuída a capitania da ilha de São Dinis (Pico) a Álvaro de Ornelas o qual após várias experiências de povoamento com gente do norte de portugal, nunca chega a tomar posse da ilha pelo que esta viria a ser incluída na capitania do Faial e 1482.

A ilha de S.Luis (Faial) crê-se ter sido povoada em 1465 por outro flamengo Joss de Hurtere  a quem foi concedida a capitania em 1468.

Em 1475 a capitania das ilhas de São Tomás e Santa Iria (Flores e Corvo) é atribuída ao fidalgo português Fernão Teles de Menezes por venda dos seus direitos da parte de João de Teive, filho de Diogo de Teive seu descobridor em 1452 e capitão do donatário.


1690,  “Isole Azzori”




Fontes:

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A Descoberta dos Açores

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No reinado de D. Dinis (1279-1325) dá-se o grande incremento das trocas comerciais portuguesas com outros países da Europa.
Lisboa, a capital do reino, é uma das mais importantes cidades do comércio europeu, onde se estabelecem mercadores judeus, genoveses e venezianos, holandeses e ingleses. Assim, Lisboa fervilha com trocas não só de produtos comerciais mas também de novas ideias como técnicas bancárias e financeiras, técnicas de navegação e cartográficas. Nesta altura, os genoveses já navegavam pela costa de África, e até já conheciam algumas ilhas do arquipélago das Canárias.



Os Portugueses, o mar e a cartografia


De D. Dinis a D. Afonso VI


Em 1317, D. Dinis nomeia para primeiro Almirante do Reino o navegador e mercador genovês Manoel Pessagno. Pessagno encarrega-se de dirigir todas as construções navais portuguesas e reorganiza a Armada Real com o objectivo de defender a costa portuguesa do ataque de piratas.

Após o surto da peste negra, a fome e o despovoamento, Portugal vira-se para o Atlântico.
Em 1325, D. Afonso IV ordena as primeiras explorações marítimas, com apoio de genoveses, sob o comando de Manoel Pessagno.

Em 1336, os portugueses reivindicam a descoberta das ilhas Canárias.

A partir de 1339 começam a aparecer os primeiros registos cartográficos onde se assinalam ilhas localizadas no Atlântico, como é o caso das Canárias mas também do arquipélago da Madeira e dos Açores.


Portulanos 


As primeiras cartas de marear, também chamadas de Portulanos, feitos em pergaminho, datam da segunda metade do séc. XIII e são provenientes das cidades italianas de Génova e Pisa. Estão centralizadas no mar mediterrâneo. 

A partir de 1339, como dito anteriormente, começam a aparecer portulanos  onde se assinalam ilhas, muitas delas imaginárias,  localizadas no Atlântico:


Angelino Dulcert
Portulano do genoves Angelino Dulcert de 1339
(Foto daqui)

O Portulano do Genovês Angelino Dulcert datado de 1339, apresenta diferenças dos seus congéneres da altura.
Escrito em latim aparece também representado o Norte da Europa e África.
É o primeiro portulano onde se identifica a ilha de Lanzarote "Insula de Lanzarotus Marocelus" nas Canárias
Também aparecem representadas as ilhas míticas de "Insulle Sa Brandani siue puelan" (Ilhas de S. Brandão) aproximadamente na mesma posição do arquipélago da Madeira; "Diculi" (Daculi - Ilha dos Caranguejos) a noroeste da Irlanda e "Brezile" (Ilha Brazil) a oeste do Sul da Irlanda.




No chamado "Libro del Conoscimiento" datado de 1345, manuscrito anónimo atribuído a um frade sevilhano, que teria acompanhado expedições portuguesas às Canárias realizadas por volta de 1340-1345, no reinado de D. Afonso IV, são descritas diversas ilhas incluindo as ilhas do arquipélago das Canárias, da Madeira e também dos Açores

"(…) Llegamos a la primera isla que dizen gresa e apres della es la isla de lançarote (…) bezimarin (…) rachan (…) alegrança (…) uegimar (…) forte ventura (…) canária (…) tenerife (…) del infierno (…) gomera (…) de lo ferro (…) aragauia (…) saluage [Ilhas Selvagens, no arquipélado da Madeira] (…) la isla desierta [Ilhas Desertas, idem] (…) lectame [Madeira] (…) puerto santo [Porto Santo] (…) la isla del lobo [Ilha do Lobo ou do Ovo, atual Santa Maria], y a otra isla de las cabras [Ilha de São Miguel], y a otra isla del brasil [Ilha Terceira], y a outra la columbaria [Ilha do Pico], y la otra la isla de la ventura [Ilha do Faial], y la otra isla de sant Jorge [Ilha de São Jorge], e la otra la isla de los conejos, y la otra isla de cuervos marinos [Ilha das Flores]."



Mediceu Laurenziano
Portulano  Mediceu Laurenziano de 1351
(Foto daqui)

O Portulano Mediceo Laurenziano de 1351 (Biblioteca Medicea Laurenziana),  de autor genovês ou florentino assinala oito ilhas dos Açores mas com orientação Norte/Sul:
“Insulae Cabrera” (Santa Maria e São Miguel), “Insulae Brasi” (Terceira), “Insulae Ventura Sive de Columbis” (ilhas do Faial, Pico e São Jorge), e “Insulae Corvis Marinis” (ilhas das Flores e Corvo).
A ilha Graciosa aparenta estar em falta.
Continuam a figurar as ilhas miticas de "Mayda" e "Brazil".








Abraão Cresques
Atlas Catalão de 1375
(III e IV folhas)
(Foto daqui)

Atlas Catalão de 1375 (Bibliothèque Nationale de France) composto por vários portulanos sem data nem autoria, é atribuído ao cartógrafo judeu da "Escola de Maiorca", Abraão Cresques e a seu filho  Jehuda Cresques. 

Considerado a obra prima da "escola de Maiorca", representa de uma forma muito completa o conhecimento geográfico do fim da Idade Média, incluindo a Ásia e a China. É o primeiro mapa onde aparece representada a rosa dos ventos e é rico em belíssimas iluminuras.

Neste mapa estão representadas seis ilhas dos Açores com direcção norte/sul.

A mítica "insula Brazile" aparece representada duas vezes: no litoral da Irlanda e a sul do grupo dos Açores.






Pormenor do Atlas catalão de 1375 
onde se podem ver as:"Ilhas Afortunadas" (Canárias), 
o arquipélago da Madeira e algumas ilhas do 
arquipélago dos Açores.(Foto de The Cresques project)

Corbitis
Atlas Corbitis de 1384
(folha IV)
(foto daqui)



Atlas Corbitis datado de 1384 (Biblioteca Nacional Marciana de Veneza) atribuído a um cartógrafo veneziano anónimo, é composto por quatro portulanos.

Estão assinaladas as ilhas Canárias, o arquipélago da Madeira e 8 ilhas no arquipélago dos Açores

As ilhas açorianas estão na  direcção norte/sul e são:
y de corui marini (Corvo), liconigi (Flores), sco zorzi (São Jorge), y la uentura (Faial), li colonbi (Pico), y de brazil (Terceira), caprara (São Miguel) and louo (Santa Maria).









Descoberta do Arquipélago da Madeira 


Após ter eventualmente participado na tomada de Ceuta em 1415,  João Gonçalves Zarco, cavaleiro e navegador português, foi incumbido pelo  Infante D. Henrique de patrulhar a costa sul de Portugal e explorar a costa de África em busca de ilhas que já apareciam nos mapas. 
Em 1418,  acompanhado por Tristão Vaz Teixeira, chegam a uma ilha que baptizam de "Porto Santo".
Regressam a Portugal e falam ao Infante das ilhas que lhes pareceu de "grande proveito de se povoar".
Em 1419, retornam a Porto Santo desta vez acompanhados de Bartolomeu Perestrelo e "redescobrem" a ilha da Madeira.


Descoberta do Arquipélago dos Açores 


Ao longo da costa de África até ao cabo Bojador, dominam os ventos e as correntes marítimas no sentido Norte/sul. De volta a Portugal, os mareantes deparavam-se com uma viagem difícil e demorada.
Após várias viagens que tinham por função, além da descoberta de novas ilhas, o estudo dos ventos e das marés, os portugueses na viagem de regresso a casa, afastavam-se da costa até apanharem uma região de ventos variáveis. Por esta altura, os navegadores calculavam as léguas que tinha de navegar no sentido sul/norte para atingirem aproximadamente o paralelo da capital do reino, através de medições da altura da Estrela Polar.

É pois aceitável que o navegador português Diogo de Silves(?) no retorno de uma viagem à Madeira, tenha descoberto em 1427 as ilhas do arquipélago dos Açores. Esta teoria baseia-se na legenda do portulano de Gabriel Valseca datado de 1439.

Gabriel Valseca
Portulano de Gabriel Valseca  (1439)
da Biblioteca da Catalunha

No portulano de 1439 de Gabriel de Valseca uma legenda sobre o arquipélago dos Açores diz:

"Aquestes isles foram trobades p diego de ??? pelot del rey de portugal an lay MCCCCXX?II" 
"Estas ilhas foram achadas por Diogo de Silves (ou Sunis? ) piloto de El-Rei de Portugal no ano de 1427".





Pormenor do Portulano de Gabriel Valseca 
com a legenda referente às ilhas açorianas

Gonçalo Velho a mando do Infante D. Henrique, parte para ocidente em busca de ilhas ou terra firme que constavam nos mapas.
Em 1431, avista os ilhéus das Formigas e, desgostoso de não achar senão ilhéus regressou ao Algarve a dar a nova ao Infante.

Gaspar Frutuoso escreve:
"Pelas informações e notícia que o Infante D. Henrique tinha destas ilhas dos Açores, (…),  no ano do Senhor de mil e quatrocentos e trinta e um, reinando em Portugal El-Rei D. João(...) tendo o dito Infante em sua casa um nobre fidalgo e esforçado cavaleiro, chamado Frei Gonçalo Velho das Pias, comendador do castelo de Almourol, (...) o mandou descobrir destas ilhas dos Açores a ilha de Santa Maria, (…); o qual, aparelhando o navio com as coisas necessárias para sua viagem, partiu no dito ano da vila de Sagres e, navegando com próspero vento para o Ocidente, depois de passados alguns dias de navegação, teve vista de uns penedos que estão sobre o mar e se vêem da ilha de Santa Maria, e de uns marulhos que fazem outros que estão ali perto, debaixo do mar, chamados agora todos Formigas (…)
Vindo a estas Formigas Frei Gonçalo Velho no novo descobrimento (…), não achando ilha frutuosa e fresca, senão estéreis e feios penedos, e, em lugar de terras altas e seguras, vendo somente baixas pedras, tão baixas e perigosas, cuidando e suspeitando ele e os da sua companhia que o Infante seu senhor se enganara, julgando aquela pobre penedia por uma rica ilha, não entendendo todos eles com esta suspeita que havia mais que descobrir, se tornaram desgostosos ao Algarve, donde partiram, sem mais ver outra coisa que terra parecesse, e dando esta nova ao Infante D. Henrique, juntamente dizendo seu parecer, que não havia por este mar outras terras senão aquelas duras pedras que nele somente acharam."Saudades da Terra", Livro III, capitulo I.

Em 1432 regressa novamente por ordem do Infante e descobre a ilha de Santa Maria.

(…) determinou provar outra vez aventura e aventurar o pouco que gastava pelo muito que disso esperava cobrar; e, como foi tempo disposto para o descobrimento, no ano seguinte tornou, com rogos e com promessas(como alguns dizem), a mandar o mesmo Frei Gonçalo Velho a descobrir o que dantes não achara, dando-lhe por regimento que passasse avante das Formigas. O qual Gonçalo Velho,tornando a fazer esta viagem, como lhe era mandado, vindo com próspero tempo, querendo Deus já fazer esta tão alta mercê ao Infante e a ele, houve vista da ilha em dia da Assunção de Nossa Senhora, quinze dias de Agosto do ano do Senhor(…) 1432, que é o ano em que se achou a ilha de Santa Maria.(…) Com grande contentamento de Gonçalo Velho e de sua companhia foi celebrado aquele dia da Assunção de Nossa Senhora com duas alegres festas, uma por entrar a Senhora no Céu a gozar dos bens da glória, outra por entrarem eles naquela ilha nova a lograr os frutos da terra.(...)"Saudades da Terra", Livro III, capitulo II.

Logo imediatamente foram descobertas as outras ilhas do grupo oriental e central.

E, indo outra vez ao Reino, o tornou o dito Infante a mandar descobrir esta ilha de São Miguel, (...) o qual, obedecendo aos mandados e rogos do Infante, alcançou de Deus achá-la,(...) e fez-lhe o Infante mercê da capitania dela, juntamente com a da ilha de Santa Maria, ficando Capitão de ambas, mas, por ser, então, mais povoada a de Santa Maria, que primeiro fora achada, residia o mais do tempo nela e lá morava.
(...) vindo o dito Frei Gonçalo Velho a esta empresa mandado do dito Infante,descobriu primeiro a ilha Terceira, e depois a de São Jorge e a Graciosa, com que o Infante lhe ficou mais afeiçoado, (...)"Saudades da Terra", Livro III, capitulo XII.


 Em 1439, numa carta régia a Gonçalo Velho, D. Pedro I diz:
"Dom Afonso, etc. A quantos esta carta virem fazemos saber que o infante D. Henrique, meu tio, nos enviou dizer que ele mandara lançar ovelhas nas sete ilhas dos Açores e que, se nos aprouvesse, que as mandaria povoar. E porque a nós isso apraz, lhe damos lugar e licença que as mande povoar. (...)
o que deixa concluir que as sete ilhas do grupo central e oriental já tinham sido descobertas.


Diogo Gomes em “Relações do Descobrimento da Guiné e das ilhas dos Açores, Madeira e Cabo Verde. c. 1500.” relata: 

«Em certo tempo, o Infante D. Henrique, desejando conhecer as regiões afastadas do Oceano Occidental, se acaso haveria ilhas ou terra firme além da descrição de Tolomeu, enviou caravelas para procurar terras. Foram e viram terra a occidente além do cabo de Finisterrae umas trezentas léguas, e viram que eram ilhas, entraram na primeira, acharam-na deshabitada e, percorrendo-a acharam muitos açores e muitas aves;e foram á segunda, que ora é chamada Ilha de S. Miguel, igualmente despovoada, tendo também muitas aves e açores, onde, além d'isto, encontraram muitas aguas quentes naturaes, s. de enxofre. D'ahi viram outra ilha, agora chamada Ilha Terceyra, que era assim como a ilha de S. Miguel cheia de arvoredos, aves e muitos açores. E descobriram ali perto outra ilha, agora chamada Ilha do Fayal. E imediatamente outra ilha a duas leguas da ilha do Fayal, agora chamada ilha do Pico; (...) Os navios voltaram a Portugal annunciando esta noticia ao senhor D. Henrique, o qual se alegrou muito.»


Em 1452, o capitão Diogo de Teive, de regresso à ilha Terceira de uma viagem de exploração para ocidente, descobre as ilhas das Flores e do Corvo


No testamento do Infante D. Henrique, datado de 28 de Outubro de 1460, lê-se: 

«… Estas são as igrejas e capelas que eu… estabeleci e ordenei para sempre em reverência e louvor de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Virgem Santa Maria sua Mãe, minha senhora…
item ordenei e estabeleci a igreja de são Luís, (actual ilha do Faial)
e a igreja de S. Diniz na Ilha de S. Diniz; (actual ilha do Pico) 
e a igreja de São Jorge, na ilha de São Jorge; 
e a igreja de São Thomaz, na ilha de S. Thomaz; (actual ilha das Flores)
e a igreja de Santa Eiria na Ilha de Santa Eiria; (actual ilha do Corvo)
item ordenei e estabeleci a igreja de Jesus Cristo na ilha de Jesus Cristo; (actual ilha Terceira)
e outra igreja na Ilha Graciosa; 
item ordenei e estabeleci a igreja de São Miguel na ilha de São Miguel, e a de Santa Maria na ilha de Santa Maria».



Jorge Aguiar
1492, Carta de marear de Jorge Aguiar
 
a carta portuguesa mais antiga, assinada e datada, que se conhece
(Foto daqui)
Luís Teixeira 1584
1584, Açores insulae. Mapa pelo cosmógrafo real Luís Teixeira
(foto daqui)



Fontes:

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