Os Açores na Segunda Guerra Mundial (1942-1943)

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Anos de 1942 e 1943

Os interesses ingleses nos Açores

A situação da Europa em 01 Janeiro 1942
(imagem daqui)

A Grã-Bretanha e os EUA chamavam à zona dos Açores  "Azores Gap", Black Hole" ou "Black Pit" por ser uma zona onde os submarinos alemães "U-boats" atacavam sistematicamente os comboios de navios aliados  vindos dos Estados Unidos para a Europa e Norte de África.
Só nos primeiros cinco meses de 1943, os Aliados perderam 365 navios.
Os Açores apresentavam-se pois numa localização estratégica da máxima importância para ambas as facções em conflito. 

Com a Batalha do Atlântico,  os Açores ganham enorme relevância para os Aliados na luta contra os "U-boats" do III Reich.

Logo no início de 1942, mais propriamente a 29 de Janeiro, Humberto Delgado parte para Londres com informações sobre as condições meteorológicas das ilhas açorianas. Essas informações levam os ingleses a desistir da intenção de utilizar hidro-aviões nas águas do arquipélago.
Assim, em Março, Vintras está de novo nos Açores desta vez para estudar o prolongamento da pista das Lajes, na ilha Terceira

Esta pista passaria a chamar-se  “Aeródromo das Lagens” por determinação de Salazar a 13 de Junho de 1942.

16 de Junho de 1943, o embaixador da Grã-Bretanha em Portugal, Sir Ronald Campbell comunica a Salazar que, na sua opinião e na do Governo Britânico e à luz da situação causada pelo avanço dos aliados, o perigo de uma invasão alemã da Península estava ultrapassado.
Solicita, invocando a Aliança Luso-Britânica, uma colaboração mais directa de Portugal no esforço de guerra inglês, ao permitir o uso de facilidades nas ilhas portuguesas do Atlântico, para o emprego de aviões e navios de superfície.
Salazar cede. Sente-se na obrigação de cumprir as cláusulas da velha aliança e apercebe-se que chegara aos limites da resistência embora uma quebra da neutralidade portuguesa pudesse acarretar sérias consequências.


1940
Angra do Heroísmo
(foto daqui

A 5 de Julho tem lugar a primeira reunião com a delegação britânica, onde se especificam os pontos do pedido inglês:

1. Uso livre do porto de Angra.
2. Acomodações para pessoal da Royal Navy: 135 homens em Ponta Delgada, Angra e Horta.
3. Armazenagem em Ponta Delgada de cerca de 1000 cargas de profundidade, munições diversas e mantimentos.
4. Facilidades para a actuação de quatro traineiras equipadas para a luta anti-submarina desde Ponta Delgada e de quatro caça-minas e traineiras desde a Horta.
5. Facilidades para a actuação de um ou mais rebocadores de alto mar desde Ponta Delgada e/ou Horta.
6. Instalação de postos de comunicações.
7. Utilização das pistas das Lajes e de Rabo de Peixe.
8. Facilidades para o reabastecimento de hidro-aviões em Ponta Delgada e na Horta.



1940
Ponta Delgada
(foto daqui)

Salazar acede mas reclama algumas garantias para Portugal:

a) compromisso assumido pelo Governo Britânico de prestar ao Governo português todo o apoio e auxílio militar no caso de ataque;
b) compromisso da elaboração de um plano de cooperação britânica na defesa de Portugal, para o que uma delegação portuguesa seria imediatamente enviada para o Reino Unido; 
c) fornecimento de material de guerra e de pessoal técnico.
d) protecção aos navios mercantes portugueses e a revisão dos acordos comercial e fornecimentos-compras e facilidades de transportes, destinadas a resolver as dificuldades do nosso abastecimento público, designadamente de alimentação e combustível.

A 23 de Julho envia uma nota ao embaixador da Grã-Bretanha em Lisboa, Sir Ronald Campbell onde diz que espera que as forças britânicas se retirem logo após o fim da guerra e que respeitem a integridade nacional. Acrescenta ainda que não permitiria uma presença americana nos Açores nem a de um só soldado inglês no Continente.

No dia 04 de Agosto de 1942, as Forças de Aeronáutica nos Açores passam a constituir a Base Aérea N.°4, no Aeródromo de  Santana  em  S.  Miguel,  e  a  Base Aérea    N.° 5, no Aeródromo das Lagens na Terceira.

Finalmente a 17 de Agosto de 1943 firma-se o acordo com a Inglaterra, onde era concedida à Grã-Bretanha o uso de facilidades nos Açores, nomeadamente  a utilização da base das Lajes, de uma base de emergência em Rabo de Peixe e do acesso aos portos de Angra, Ponta Delgada e Horta.

data fixada para a entrada em vigor do mesmo, seria a de 8 de Outubro do mesmo ano.
Portugal recebe em troca, entre outro material, seis esquadrilhas de aviões de caça Hurricane.
A defesa dos Açores ficava da responsabilidade de Portugal, à excepção das imediações da base das Lajes.

Poucos dias antes da entrada em vigor do acordo todos os cidadãos dos países do Eixo foram retirados dos Açores.

A 1 de Outubro de 1943 deu-se inicio à chamada operação "Alamity". Um comboio de navios da Marinha Inglesa parte de Liverpool com destino à Ilha Terceira nos Açores. É constituído pelo navio de transporte "Franconia" com 3000 homens do Exército, Armada e Força Aérea, escoltado pelos "destroyers" HMS Volunteer, Whitehall e Havelock acompanhados pelo porta aviões HMS FENCER  e os "destroyers" HMS Inconstant, Viscount, Wrestller,  Burza e Garland.


A cedência das bases foi oficialmente anunciada em Londres e Lisboa a 12 de Outubro de 1943

A Royal Air Force (RAF) passa a designar o campo das Lajes como RAF Station Lajes.


(1943),
 "Salazar discursando na Assembleia Nacional",
CasaComum.org,
Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_114559 (2015-3-12)



A 26 de Novembro de 1943, Salazar discursa na Assembleia Nacional sobre o acordo com Inglaterra.










(anterior)


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A Defesa dos Açores na Segunda Guerra Mundial

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A Defesa dos Açores



Até meados de 1941, os Açores estão praticamente indefesos.

Ernesto Machado, nomeado Comandante Militar dos Açores em 1939, foi instruído nesse mesmo ano pelo Subsecretário de Estado da Guerra para realizar a mudança do Comando Militar dos Açores da ilha Terceira (Palácio dos Capitães Generais) para São Miguel, e simultaneamente decidir sobre o reforço da Defesa das Ilhas.

Esse reforço, que durou de Outubro de 1939 a Julho de 1940, basicamente consistiu na instalação das baterias de costa, em Ponta Delgada (Bateria da Castanheira – Grotinha, Arrifes) e na Horta (Bateria de Costa da Ponta da Espalamaca e do Monte da Guia) e ao reforço da guarda das áreas mais críticas (estações de cabos, algumas praias, entre outras).

A partir de Maio de 1940, com a queda da França e com os pedidos insistentes da Inglaterra no sentido de reforçar a defesa nos Açores, decide-se enviar um batalhão expedicionário. O Batalhão de Infantaria nº.66 embarca para os Açores em Outubro de 1940.

Os Açores não têm cobertura aérea, embora uma pequena força de aviões de reconhecimento com base no arquipélago, fosse o bastante para aumentar em muito a eficácia do dispositivo de defesa. Efectivamente, os únicos hidroaviões que existem no país não podem permanecer nas ilhas por não haverem instalações adequadas.

A partir de Abril de 1941, o Exército reforça significativamente o seu contingente nas ilhas. 

Num relatório de 4 de Maio de 1941, a relevância das ilhas a defender fica definida:


S. Miguel é a ilha mais importante sob o ponto de vista estratégico; 
a Terceira é de grande importância, devido ao campo de aterragem; 
a ilha do Faial deve também ser defendida.

"Deverão preparar-se urgentemente dois aeródromos-base, um em cada uma das ilhas Terceira e de S. Miguel e, se possível, um campo de recurso na Ilha do Faial. Na ilha Terceira, o local preferido é o das Lagens, próximo de Praia da Vitória, e sobre o qual há já estudos do Conselho Nacional do Ar tendo em vista a sua utilização por linhas aéreas transatlânticas. Por agora interessa apenas um aeródromo de campanha, sem necessidade de grandes trabalhos de preparação. [...] 

A Marinha da Guerra e a Força Aérea acentuam a responsabilidade da vigilância das ilhas.
O patrulhamento aéreo é essencial na obtenção rápida de informação de modo a evitar qualquer ofensiva surpresa pelo que é sugerida a concentração urgente de maior numero de aviões possível nas ilhas.



Navio Lima


Em Maio de 1941, são enviadas para os Açores unidades antiaéreas no navio Lima e tropas de engenharia no navio Carvalho Araújo.







(1941), "Humberto Delgado e outros aviadores portugueses na Base das Lajes",
 CasaComum.org,
Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_114159 (2015-2-5)

O então Major Humberto Delgado é encarregado de acompanhar os trabalhos da implementação da pista nas Lajes. 
Abre-se uma pista de terra batida e erguem-se alguns armazéns. 





1941 
Construção do hangar pela marinha de guerra portuguesa 
para a instalação do Centro de Aviação Naval em Ponta Delgada



A  Marinha da Guerra e a Força Aérea empenham-se na defesa dos portos. 
Em  Junho de 1941, com o desenvolvimento da base naval,  é criado o Centro de Aviação Naval de Ponta Delgada e nomeado Comandante Militar dos Açores o Brigadeiro Marques Godinho.





O sistema de comunicações usado pelos guardas costeiros até aqui é quase exclusivamente o telefone, pelo que neste mesmo ano, os Açores recebem o Posto Radiotelegráfico do Centro de Aviação Naval de Ponta Delgada.  



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A Aviação - Esquadrilhas expedicionárias





Gladiator
Navio "Mirandela" no
Porto de Lisboa
A 4 de Junho de 1941, parte de Lisboa com destino aos Açores o cargueiro "Mirandela".
A sua carga é composta por duas esquadrilhas equipadas com aviões Gladiator, pessoal militar como oficiais, pilotos, mecânicos, radiotelegrafistas, enfermeiros, sargentos e soldados do serviço geral, rádio e condutores, viaturas, munições e combustíveis.



Transporte dos Junkers JU.52 de Ponta
Delgada para o Aeródromo de Sant'ana




A Esquadrilha de Caça Expedicionária nº1 , composta por 5 Junkers JU.52 e 15 Gladiator desembarca em S. Miguel a 8 de Junho, com destino ao Aeródromo Militar  de Sant'ana, em Rabo de Peixe.




12 Junho 1941
Desembarque em Angra do Heroísmo

A Esquadrilha de Caça Expedicionária nº2  composta por 15 Gladiator desembarca no Cais da Alfândega em Angra do Heroísmo, ilha Terceira na manhã do dia 12 de Junho. Desfila pelo centro da cidade e dirige-se ao Castelo de S. João Baptista onde fica aquartelada. 






Construção da primeira pista paralela
ao Engenho do Álcool
 e perpendicular à Serra
(Lajes) 
Gladiators na Achada
Os aviões seguem encaixotados para o Aeródromo das Lajes. São montados nas Lajes do Calvário, junto ao Engenho do Álcool, onde se localizava a pista, que tinha acabado de ser concluída. Como esta ainda não apresentava as melhores condições os Gladiators são temporariamente deslocados para o Aeródromo da Achada onde passam a operar.




É também necessário instalar a esquadrilha, proceder à montagem dos aparelhos, organizar a logística, a manutenção e a defesa das instalações. As obras nas Lajes ficam concluídas a 26 de Agosto de 1941.



Em Setembro de 1941, o Comando Militar dos Açores dirige já uma guarnição distribuída por três ilhas, com uma presença simbólica nas outras. A área que mais soldados expedicionários recebeu, cerca de 26.500 continentais para reforçar as guarnições locais já mobilizadas para a formação de novas unidades, totalizava um número compreendido entre os 30.000 a 32.000 homens.
O grosso das forças está em S. Miguel, sede de três regimentos de infantaria (RI 18, 21, 22), companhias de metralhadoras, artilharia antiaérea e de campanha e as baterias de defesa de costa de Ponta Delgada.
O RI 17 está na Terceira e o RI 20 no Faial, ambas as ilhas reforçadas com unidades de artilharia de campanha, antiaérea e auxiliares.

Assim, de Abril a Setembro de 1941, criou-se nas ilhas um dispositivo de defesa que segundo o governo português "estava em condições de se opor eficazmente a uma tentativa de ataque à sua soberania nas ilhas portuguesas do Atlântico".

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